Foto: Renan Mattos (Diário)
Nove meses já se passaram desde que a notícia de que Santa Maria enfrentava um surto de toxoplasmose foi confirmada. De lá para cá, 902 casos já foram confirmados da doença na cidade. Atualmente, o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) é que concentra o atendimento às gestantes e às crianças com toxoplasmose congênita (bebês infectados durante a gestação e que nasceram com a doença).
Na sexta-feira, o Husm confirmou a primeira morte de um bebê com a doença em função do surto (há registro de outros 10 casos de abortos e três casos de morte fetal). A criança - uma menina que estava internada no hospital - acabou vindo a óbito há cerca de 15 dias.
Hoje, há 19 bebês com a doença em tratamento no hospital, sendo que nenhum está internado e nove nasceram com complicações (veja no quadro abaixo). Conforme a médica Maria Clara, dos casos em acompanhamento, apenas quatro mulheres receberam o tratamento adequado durante a gestação, o que pode ter contribuído para o número de crianças que nasceram com a doença.
- Muitas receberam o tratamento tardio. Outras, conseguimos tratar precocemente. Por isso, é importante fazer os exames cedo. Hoje, eles já são feitos uma vez ao mês. Tem que ter atenção redobrada no pré-natal - comenta a médica.
A SITUAÇÃO DOS BEBÊS
- 19 bebês que nasceram com toxoplasmose estão em tratamento e em acompanhamento pelo Husm
- Desses, 9 têm alterações no sistema nervoso e/ou ocular, considerados os casos mais graves
- Além dos pacientes com toxoplasmose congênita, o ambulatório de toxoplasmose do Husm também atende bebês cujas mães tiveram o diagnóstico positivo para a doença durante a gestação. São cerca de 135 gestantes em acompanhamento no hospital. Todos serão monitorados por, pelo menos, um ano
- O ambulatório funciona às terças de tarde e às quartas e quintas-feiras pela manhã
Lívia está em tratamento por sequelas em função da toxoFoto: Janio Seeger (Diário)
Lívia é um dos bebês em tratamento no Husm
Entre os 19 bebês com a confirmação da doença, está Lívia de Andrades Barroso, de 6 meses. Ela nasceu no dia 14 de julho e ficou 24 dias internada na UTI Neonatal do Husm. A mãe, Rafaela de Andrades, 27 anos, não sabia que estava com a doença.
- Quando descobri que estava grávida, fui ao médico, fiz os exames e, até então, não tinha nada, deu negativo. Eu sentia muitas dores no corpo, de cabeça, mal-estar, calafrios e não aguentava nem ficar em pé em alguns dias. Tive sangramentos na gestação, fui ao médico, mas nunca me disseram que era toxoplasmose. Nunca pensei que fosse acontecer comigo, já tinha perdido um bebê há um ano, não queria passar por isso de novo. Não conseguia acreditar - conta Rafaela.
Com 35 semanas de gestação, a bolsa estourou, mas Rafaela não percebeu. Foi só depois de ter passado a noite inteira com dores e de ir até a emergência do Husm que descobriu que estava em trabalho de parto. No dia seguinte ao nascimento, Lívia foi internada na UTI. Hoje, ela faz tratamento no hospital e com especialistas (oftalmologista, fonoaudióloga, fisioterapeuta, neurologista e terapeuta ocupacional) e toma cinco medicações diárias contra a toxoplasmose. Em função da doença, ela perdeu a visão do olho direito e tem microcefalia, mas nada que tire o sorriso do rosto da pequena, sempre atenta a tudo a sua volta.
Diagnóstico de Joaquim deu negativo para a doença
Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)/
A gravidez da dona de casa Danielle Xavier dos Santos, 26 anos, também foi atravessada de preocupações. Ela descobriu a doença antes mesmo de as autoridades da área tratarem os registros de toxoplasmose como uma situação de epidemia. O diagnóstico de Danielle foi feito em 13 de março de 2018, enquanto a notícia de que havia um surto na cidade veio à tona em 19 de abril.
No dia 12 de junho, ela recebeu a notícia tão esperada: o bebê Joaquim não contraiu a doença e estava imune ao protozoário Toxoplasma gondii. A história do bebê foi contada pelo Diário em junho do ano passado. Joaquim, que completará 4 meses no dia 4 de fevereiro, nasceu uma semana antes da data prevista para o parto por conta de uma ameaça de pré-eclâmpsia.
- Meu pai faleceu 11 dias antes do dia em que ele (Joaquim) acabou nascendo. Fiquei com a pressão alta, internei, e até tentaram induzir o parto, mas não tive dilatação, então, teve que ser cesariana. Ficamos oito dias no hospital. Ele precisou fazer vários exames no olho, punção na coluna, mas foi bem tranquilo - lembra Danielle.
Mesmo após o nascimento, Joaquim continuou fazendo o tratamento no Husm. Ele não teve nenhum tipo de lesão diagnosticada e leva uma vida normal.
- O dia em que eu soube, antes dele nascer, já foi um alívio. Agora, mais ainda. Mas, a água da torneira, eu não dou para ele, só mineral - comenta a mãe de Joaquim.